quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Família Nepenthaceae - Os Vasos Orientais da Morte


As plantas desta família possuem na ponta de suas folhas estruturas semelhantes a jarros, sendo na verdade continuações da própria folha modificadas, com as bordas do limbo unidas formando uma ânfora. Sobre a abertura desta ânfora encontra-se uma estrutura semelhante a uma "tampa", normalmente colorida, servindo de proteção estática para que a armadilha não se encharque. Isso faz com que apenas uma porção de líquido encontre-se em seu interior, e é neste líquido que insetos, aranhas, e mesmo pequenos pássaros (imagine que cena bizarra a cena) ficam presos ao escorregarem para dentro do tubo - atraídos pelas cores e pelo brilho de glândulas situadas na base da tampa. Uma vez dentro, uma parede cerosa e pelos no interior da folha voltados para baixo evitam que esta possa ser escalada, e ali os animais são digeridos. 

Esta família possui os maiores espécimes de plantas carnívoras e tem a forma de uma trepadeira (sendo que a estrutura entre a folha e a armadilha atua na sustentação da planta, de maneira análoga às gavinhas das uvas).Trata-se de uma das espécies mais admiradas dentre as plantas carnívoras. Existem exemplares muito grandes, com jarros que muitas vezes conseguem capturar até mesmos pequenos pássaros, roedores e anfíbios. Como a grande maioria das espécies captura insetos, podemos dizer que esta família é verdadeiramente carnívora. 


Vale lembrar que estas plantas não fazem mal ao homem, mitos da ficção científica de plantas devorando homens não passam da imaginação humana. 


Esta planta foi descrita pelo governador da Madagáscar, no século XVII como "uma planta que dispõe no fundo das suas folhas, umas flores ou frutos semelhantes a vasos". Só muito mais tarde se passaria a considerar a Nepenthes como planta carnívora. Charles Darwin chegou a avaliá-la nas suas experiências no século XIX.


Que tal usar uma destas para decorar a árvore de natal este ano? Viajar até Madagascar vai sair mais em conta do que pagar as parcelas das compras do fim do ano. 

As Nepenthes podem ser encontradas em mais de 70 especies, várias das quais híbridos naturais ou mesmo algumas "criadas" por colecionadores. Originárias da Ásia tropical, do Vietname ou mesmo da Austrália. A grande maioria encontra-se na Malásia, Indonésia e Filipinas. Algumas conseguiram emigrar mais a leste para a ilha de Madagáscar ou para o Srilanka. Muitas são endêmicas, como a famosa Nepenthes rajah de Borneo. As Nepenthes são na sua maioria plantas trepadeiras que crescem nos solos pobres e ácidos, com ambientes muito úmidos e de até 3500 metros de altitude. 


São plantas com aspecto vivo e com crescimento bastante rápido e longo, podendo algumas espécies atingir 20 metros na natureza. Cada espécie dispõe de urnas distintas, variando a forma e/ou a cor. A urna está equipado com uma espécie de tampa, que evita que a planta fique cheia de água da chuva frequente nas suas regiões de origem. O tamanho pode variar muito de espécie a espécie. Podemos encontrar urnas com 3 a 4 cm (Nepenthes ampullaria) ou acima dos 40 cm (Nepenthes rajah). Nesta última, a capacidade da urna pode atingir 3 a 4 litros.


Unissexuais, dispõem de flores em forma de espiga com quatro pétalas em que as glândulas nectaríferas atraiam os insetos polinizadores. As flores depois de fecundadas criam um fruto com centenas de sementes leves que são espalhadas pelo vento.


A Captura das Presas 

Pobre morcego. Talvez alguém devesse tentar segurar esse humano na boca de um jaguar para ver se ele ainda pareceria tão animado. 
As Nepenthes desenvolveram urnas onde apanham os insetos, atraídos pelo néctar produzido por glândulas no interior. Os insectos posam e escorregam para dentro do "vaso", onde morrem afogados pelo líquido.

As paredes estão recobertas de pelos encerados, que se liberam ao mínimo contato, forçando assim o insecto a cair no líquido. O líquido ocupa geralmente 1/3 da urna e é segregado pelas glândulas digestivas na parte mais baixa. Muito rico em enzimas, o fluido rapidamente dissolve o inseto e a planta assimila os seus nutrientes. Se não estiver diluído em água da chuva, o líquido é muito viscoso, semelhante á glicerina. A produção de enzimas é proporcional ao número de presas capturadas, permitindo ao líquido manter a sua eficácia, mesmo em caso de dilúvios. As glândulas digestivas participam da assimilação dos nutrientes.



O regime da Nepenthes é constituído por 80% de formigas, mas podemos encontrar nas urnas escorpiões, aranhas, caracóis, ou mesmo rãs (por isso, nunca deixe aquele seu gafanhoto de estimação passeando sozinho pelas montanhas das Filipinas, a não ser que nunca mais queira vê-lo) . São presas atraídas pela água da urna ou mesmo pelos insetos em decomposição, acabando por afogar-se. Uma mosca é assimilada em 2 dias, restando apenas o esqueleto, decomposto em algumas semanas pelas bactérias que se encontram no líquido digestivo da planta.


Este pequeno inseto já teve dias melhores.

Em cultura, deve-se sempre vaporizar a planta, várias vezes ao dia. O desenvolvimento das urnas depende diretamente da umidade. Se não existir umidade suficiente, a planta continua a crescer normalmente, mas não desenvolve as urnas. Portanto vaporize sempre que possa. Quando as urnas estiveram secas, corte, livrando assim a planta das urnas "mortas", o que favorecerá o crescimento das novas. Coloque a planta em suspensão, ou pelo menos de forma a que as urnas possam se desenvolver sem problemas. 

Para completar, aqui vai o vídeo de um pesquisador inglês se aventurando á procura destas plantas carnívoras - com direito á uma passagem em câmera rápida que demonstra o crescimento dos vasos da Nepenthes a partir do alongamento do ápice de suas folhas modificadas. E acredite, é muito mais emocionante que aquele filme sem sal onde Sandra Bullock e George Clooney ficam rondando por duas horas no espaço sideral.    




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